Um incêndio deflagrou quinta-feira num navio ao largo da costa holandesa com cerca de 3 mil veículos a bordo, matando um membro da tripulação e ferindo vários outros.

O incêndio começou na quinta-feira à noite no navio Fremantle Highway, registado no Panamá, que se encontrava a caminho da Alemanha para o Egipto, obrigando vários membros da tripulação a saltar borda fora.

A Embaixada da Índia nos Países Baixos declarou numa mensagem nas redes sociais que o incêndio "resultou na morte de um marinheiro indiano e em ferimentos na tripulação" e que estava em contacto com a família do falecido.

A empresa japonesa Shoei Kisen, proprietária do navio, declarou que toda a tripulação era indiana.

Todas as 23 pessoas a bordo, incluindo vários feridos da tripulação e a pessoa que morreu, foram retiradas do navio por helicópteros e botes salva-vidas, informou a guarda costeira holandesa.

As embarcações de salvamento pulverizaram água sobre o navio em chamas para o arrefecer, mas a utilização de demasiada água poderia fazer com que o navio se afundasse, informou a guarda costeira holandesa. Uma embarcação de salvamento foi acoplada para impedir que o barco se afunde na linha das principais rotas marítimas da região.

Cerca de 350 dos veículos a bordo eram automóveis Mercedes-Benz, informou a empresa. Segundo a Reuters, não ficou imediatamente claro quais os fabricantes de automóveis, para além da Mercedes, que tinham os veículos a bordo. A Ford e a Nissan não tinham quaisquer veículos no navio, garantiram porta-vozes daquelas empresas, e os representantes da Stellantis (Peugeot, Citroën, Alfa Romeo, Jeep e Fiat), Toyota e Renault disseram ser improvável que tivessem carga a bordo.

Um porta-voz da Volkswagen disse à Reuters que a empresa estava a investigar ativamente o assunto, mas não podia fornecer mais informações. A General Motors e a BMW não foram capazes de fornecer informações de imediato. A Tesla não respondeu a um pedido de comentário.

O incêndio pode durar vários dias, informou a agência noticiosa holandesa ANP, citando a guarda costeira. O fumo continuava a sair do navio perto da ilha de Ameland, no norte da Holanda.

"O fogo ainda não está definitivamente controlado. É um incêndio muito difícil de extinguir, possivelmente devido à carga que o navio estava a transportar", disse Edwin Versteeg, porta-voz do Departamento Holandês de Vias Navegáveis e Obras Públicas.

A guarda costeira disse no seu site que a causa do incêndio era desconhecida, mas um porta-voz da guarda costeira tinha dito anteriormente à Reuters que o incêndio começou perto de um carro elétrico. Cerca de 25 dos 2.857 veículos a bordo do navio eram eléctricos.

Mais regras para o transporte de automóveis elétricos

A Organização Marítima Internacional, que estabelece a regulamentação para a segurança no mar, planeia avaliar novas medidas para os navios que transportam veículos eléctricos no próximo ano, tendo em conta o número crescente de incêndios em navios de carga, disse um porta-voz daquela organização.

"Os carros eléctricos ardem tanto como os carros com motor de combustão. Quando as baterias sobreaquecem e ocorre a chamada 'fuga térmica', a situação torna-se perigosa", disse Uwe-Peter Schieder, mestre marinheiro e representante da Associação Alemã de Seguros. "Uma reação química na bateria produz gases que a inflamam."

As novas regras em estudo poderão levar anos a ser implementadas, mas podem incluir especificações sobre os tipos de extintores de água disponíveis nos barcos e limitações sobre a quantidade de carga que uma bateria pode ter, o que afecta a inflamabilidade.

A guarda costeira disse que o Fremantle, que tinha partido do porto alemão de Bremerhaven, tinha sido rebocado para fora das vias de navegação e poderia afundar-se. O navio encontrava-se a 27 km (17 milhas) a norte da ilha holandesa de Ameland quando o incêndio começou.

O fogo espalhou-se tão rapidamente que sete membros da tripulação saltaram borda fora, disse Willard Molenaar da Royal Dutch Rescue Company (KNRM), que foi um dos primeiros a chegar ao local.

Molenaar disse à emissora holandesa NOS que algumas pessoas ficaram feridas ao saltarem para a água, enquanto um membro da tripulação morreu nas chamas.

"Havia muito fumo e o fogo propagou-se rapidamente, muito mais depressa do que se esperava", disse. "As pessoas a bordo tiveram de sair rapidamente... Pescámo-las da água".

Um helicóptero retirou do navio em chamas a restante tripulação de 23 membros. Os feridos estavam a ser tratados por problemas respiratórios, queimaduras e ossos partidos, segundo as autoridades locais holandesas.

O porta-voz da Guarda Costeira, Edwin Granneman, disse que os especialistas em salvamento estavam a tentar determinar os próximos passos para o navio em chamas.

Shoei Kisen, a empresa japonesa de aluguer de navios que gere o Fremantle, disse que estava a trabalhar com as autoridades holandesas para extinguir o incêndio.

O navio de 10 anos de idade, medindo cerca de 200 metros (656 pés) de comprimento, pode transportar até 4.000 carros, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A guarda costeira não pôde confirmar se houve uma fuga de combustível do navio, embora as autoridades tenham tomado algumas medidas de precaução para o evitar, disse o porta-voz.

O navio navegava perto do Mar de Wadden, Património Mundial da UNESCO, que é o maior sistema ininterrupto de planícies de areia e lama entremarés do mundo. Estes ambientes são altamente sensíveis e podem ser danificados em caso de derrame de petróleo. Foi imposta uma proibição temporária de voo sobre a zona onde o navio está a arder.

Incêndios em navios de transporte de automóveis

O incidente foi o último de vários incêndios registados nos últimos tempos em navios de transporte de automóveis.

No início deste mês, dois bombeiros de Nova Jersey morreram e cinco ficaram feridos no combate a um incêndio num navio de carga que transportava centenas de veículos.

Um incêndio destruiu milhares de automóveis de luxo no Felicity Ace, que naufragou ao largo da costa dos Açores, em março de 2022.