Terminado o CES, a maior feira do mundo de eletrónica de consumo, é altura de refletir sobre as últimas tendências apresentadas em Las Vegas. Com um pavilhão inteiro dedicado ao setor automóvel, sucederam-se apresentações exclusivas de grandes marcas. Uma dimensão que corresponde à presença cada vez mais forte da eletrónica nos automóveis. Basta ver que qualquer modelo topo de gama tem um sistema eletrónico com mais de 100 milhões de linhas de código informático.
As novidades foram na sua maioria temas que ainda há pouco tempo eram considerados ficção científica: carros elétricos com autonomia e alta performance, carros autónomos e sobretudo carros inteligentes que falam e interagem tanto com os passageiros, como com as pessoas ao redor (ex: concept i da Toyota).
Se fizermos uma retrospetiva histórica, os automóveis têm refletido uma preocupação principal. Primeiro o design, depois a performance, seguida da segurança e finalmente, na última década, a preocupação ambiental. O novo Porsche Panamera, com 462 cv, atinge os 100 km em 4,4 segundos e com um consumo normalizado de 2.5 litros, é talvez a síntese perfeita destas últimas décadas.
Atualmente os automóveis aproximam-se das novas gerações, mais preocupadas com as novas tecnologias do que com a performance, precisamente pelo renascer da paixão pelos automóveis futuristas, confirmando a sua transformação digital.
Esta edição do CES mostrou o que a indústria automóvel quer fazer. Uma mudança de conceito em que o automóvel se assume como um terceiro espaço de vida, depois da casa e do escritório. Um espaço de conforto, onde somos conduzidos e aproveitamos para rentabilizar o tempo do transporte, seja para lazer ou organização da vida pessoal ou laboral.
A Bosh apresentou um habitáculo à volta deste conceito de espaço, em que o volante desaparece, os bancos reposicionam-se simulando uma sala de estar, onde o utilizador vai adiantando o jantar através do computador, verificando o que está no frigorífico, a possibilidade de encomendar ingredientes em falta até à preparação remota da receita.
Neste novo espaço de vida, além do assistente vocal Siri da Apple e do OK Google, surgiu agora o Alexa da Amazon, presente em força nesta edição do CES.
Outra presença a destacar, a Nvidia, um fabricante eletrónico bem conhecido no mundo dos computadores por ter dinamizado a indústria dos videojogos, e que agora estende a sua ação para a indústria automóvel.
A primeira incursão natural, nos interfaces gráficos, rapidamente avançou para a inteligência artificial e a condução autónoma. Com a ajuda de processadores de alta performance, vem realizar o anúncio mais relevante com a funcionalidade de copiloto. Ou seja, tira proveito da inteligência desenvolvida na condução autónoma para assistir o condutor: alerta para distrações ou adormecimento como também recebe instruções de navegação através da leitura dos lábios. E ainda vigia o ambiente exterior ao automóvel.
Os sistemas clássicos anti-colisão serão complementados por funcionalidades de aviso que antes mesmo da ação do condutor alertam para situações de risco.
Mas se julga que o futuro é 100% autónomo, desengane-se. Todas as tendências reveladas agora em Las Vegas mostram que ainda há lugar para o condutor humano.