A Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) realizou um estudo, no concelho de Lisboa, em que observou o comportamento dos peões durante o atravessamento da via em passadeiras sinalizadas e com semáforos.
As distrações observadas enquanto atravessavam a estrada incluíam peões a falar com o telemóvel na mão (5,7%), a manusear o telemóvel (texting, consulta de redes sociais ou e-mail) (4,8%) e a usar auriculares/auscultadores (5,9%).
Com a análise dos 5.223 peões observados, a Prevenção Rodoviária Portuguesa concluí que 15,6% estavam envolvidos em pelo menos uma das três atividades, com percentagem mais elevada entre os mais novos.
Segundo o estudo, 28,5% dos peões tinha até 30 anos, 17,3% tinha entre 30 e 60 anos e 2,7% mais de 60 anos.
As diferenças entre os dois grupos etários mais novos são explicadas pela utilização de auriculares com 15,2% no grupo dos peões até aos 30 anos e 5,6% nos peões dos 30 aos 60 anos.
Por outro lado, a observação destes comportamentos revelou também que peões tendem a usar mais os auriculares/auscultadores no início da manhã e fazem uma maior utilização do telemóvel para falar à hora de almoço e durante a tarde.
De destacar ainda as percentagens de utilização do telemóvel ou de auriculares nas passadeiras com semáforos, que foram iguais tanto com sinal verde como com sinal vermelho para peões.
De acordo com a Prevenção Rodoviária Portuguesa, Lisboa parece acompanhar a tendência europeia de acordo com um estudo realizado pela DEKRA Accident Research (2016) em seis capitais europeias sobre a utilização do telemóvel por parte de cerca de 14.000 peões, aquando do atravessamento da via.
Relacionando os dois estudos, PRP e Dekra, Estocolmo surge como a capital europeia com o maior índice de utilização do telemóvel por parte dos peões (23,55%), logo seguido por Lisboa com 15,6%.
Berlim (14,9%), Paris (14,53%) e Bruxelas (14,12%) apresentam resultados muito similares e, por último, Roma (10,2%) e Amesterdão com o índice mais baixo (8,2%).
Os dados da sinistralidade no concelho de Lisboa mostram que entre 2010 a 2015 mais de metade (54%) das vítimas mortais de acidentes rodoviários eram peões.
Para José Miguel Trigoso, presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, os peões distraídos com estes equipamentos colocam-se em maior risco de se verem envolvidos num acidente, tal como acontece com os condutores.
Vários estudos internacionais, acrescenta, mostram que as pessoas que andam enquanto falam ao telemóvel se tornam mais imprevisíveis e apresentam comportamentos de risco.
Tendo em conta que a distração é um dos fatores que contribui para o aumento quantitativo do risco de acidente, tanto nos peões como nos condutores, José Miguel Trigoso defende que “importa perceber a influência quantitativa que a utilização do telemóvel por parte dos peões tem na sinistralidade rodoviária, pelo que se torna necessário o desenvolvimento de estudos nesta matéria".