Depois de no ano passado dez construtores de renome mundial terem recusado marcar presença no Salão de Frankfurt, agora é a vez de Paris, que decorre entre 4 e 14 de outubro, se ver desfalcado em 15 marcas. Estas ausências confirmam a tendência e deixam antever o fim deste formato de apresentação de novas propostas do setor automóvel que remonta à década de 60.
Ford, Mazda, Mitsubishi, Nisssan, Infiniti, Opel, Subaru, Volvo, Jeep, Fiat, Abarth, Alfa Romeo, Volkswagen, Bugatti e Bentley são as marcas que este ano vão dispensar a visita à Cidade Luz. E duas delas foram perentórias nas suas explicações: “Os salões automóvel estão mortos. São produto da década de 1960 e já não são relevantes. Não nos dão o que queremos e não dão aos compradores o que eles querem,” afirmou recentemente presidente do Grupo Volkswagen, Herbet Diess.
Semelhante é a posição da Volvo que, aliás, foi a primeira a deixar claro o que pensa deste tipo de exposição. “As recentes alterações na indústria automóvel estão a criar novas audiências para a Volvo e a criar novas formas de apresentar os nossos modelos ao mercado, pelo que a nossa presença automática nos eventos tradicionais [salões] já não é viável,” reconheceu Björn Annwall, vice-presidente de Estratégia e Retalho da marca sueca.
Os motivos explicam-se de forma simples – os salões já não dão às marcas o retorno necessário para fazerem face aos custos que os mesmos representam. Tudo porque o público quer mais quando chega à altura de conhecer as novas propostas do setor e, ironicamente, tem cada vez menos nos salões.
O público, que mais não é que um enorme grupo de potenciais compradores, quer experimentar o carro, tocá-lo, sentar-se no seu interior e apreciar cada detalhe. Algo que é cada vez mais difícil de conseguir num certamente – impossível mesmo se estivermos a falar de circular com o carro. Por oposição, a presença online das marcas dá a possibilidade de cada um de nós, no conforto da nossa casa e por custo zero, vermos centenas de imagens de alta qualidade de cada carro e até mesmo de nos sentarmos de forma virtual ao volante... E se gostámos e queremos mais, basta no final carregar no incontornável botão “mais informações” ou “marcar ensaio”. Tudo sem custos e sem ter de sair de casa! Algo que um salão não oferece de todo.
Mas este é apenas um lado da moeda. Do outro lado surge a imprensa que acorre a estes certames... Ou melhor, que corre nestes certames de um lado para o outro sem ficar muito tempo num só stand. Essa é precisamente uma das coisas que as marcas mais querem evitar. E não é difícil entender porquê quando se olha, por exemplo, para os mais de dez milhões de euros que a Mercedes gasta em Frankfurt. É claro que não é muito agradável despender de todo este investimento para ver jornalistas depois saírem a correr para o stand do lado (que se calhar fez um investimento muito mais pequeno) para outra apresentação.
As marcas começam, por isso, a preferir optar por eventos próprios, mais exclusivos e comparativamente muito mais económicos e dos quais, ao mesmo tempo, os jornalistas “não podem fugir”, ficando sujeitos a todo o programa que lhes é proposto e perdendo-se durante várias horas a apreciar todos os detalhes a que as marcas querem chamar a atenção num determinado veículo.