Joel Sousa, um engenheiro automóvel nascido em Guimarães, comprou os direitos da Famel, a famosa marca de motorizadas de Águeda, que faliu no inícoi do século XXI. Quando se soube, recebeu milhares de mensagens de apoio
Como surgiu a ideia de reativar a marca Famel?
Foi uma oportunidade que nasceu ainda quando estava a realizar o estágio profissional. O dono dessa empresa tinha comprado os direitos da marca e acompanhei o processo. Mas quatro anos mais tarde essa empresa onde estagiei faliu, pelo que acabei por comprar os direitos da Famel, em 2014. A principal razão para o fazer é o facto de ser daquelas pessoas que não gosta de estar parado, tipo estar no sofá a ver TV, e vi ali uma hipótese que pode ser o projeto da minha vida.
Agarrou-se logo ao projeto de fazer renascer a Famel?
Como a minha vida profissional ficou entretanto muito preenchida, acabei pornão mexer mais naquilo, até que em maio de 2014 foi exibida uma reportagem da SIC sobre a Famel, na rubrica “Abandonados”, onde se relatava o apogeu e declínio da empresa e também fui entrevistado, já na qualidade de detentor dos direitos da marca.
Quais foram as consequências dessa reportagem?
Caíram-me centenas, senão milhares, de mensagens e mails com várias sugestões e ofertas de ajuda e apoio. Essa vaga só acalmou em setembro/outubro, mas deu para ver o grande potencial que a Famel ainda tem.
Houve propostas de investimentos?
Houve várias hipóteses, mas nunca nada de muito concreto.
Passou a sentir muita pressão?
Nem por isso, considero-me muito calmo e decidido e defini a minha estratégia para renascer a Famel, estando sempre atento a todas as sugestões que forem surgindo.
Qual é o plano?
A estratégia é começar a definir qual o primeiro protótipo que vou construir. Estou a avaliar várias hipóteses de modelos e motorizações: elétricas, 125 cc ou até 125 cc.
Quanto lhe custaria fazer um protótipo?
Estimo que entre 50 mil a 75 mil euros para fazer um protótipo já pronto para entrar em produção.
Quanto tempo vai demorar a conseguir a ter esse protótipo pronto?
Curiosamente, quando se deu este alarido todo pelo facto de ser detentor da Famel fui promovido no meu trabalho e os meus planos de desenvolvimento do protótipo foram substancialmente alterados, pois os horários mudaram e agora acabo por chegar mais tarde a casa. Mas conto tê-lo pronto em 2017. Prefiro dar um prazo mais alargado e assim poder eventualmente surpreender pela positiva.
É com esse protótipo que pretende reativar a XF-17?
É um dos modelos em estudo e que pretendemos reconfigurar, usando a base e mantendo os principais elementos que visualmente identificavam a XF-17.
Há quem se Babe pelas Famel
Há décadas que as motas japonesas tomaram conta do mercado português, mas numa pequena aldeia povoada por irredutíveis transmontanos ainda se resiste ao “invasor”. Em Babe, quase todas as motas são portuguesas, com a Famel em grande destaque.
Fica a poucos quilómetros de Bragança, já quase a chegar a Espanha, o local onde pode encontrar uma das maiores concentrações de modelos das motorizadas Famel em Portugal. Chama-se Babe, tem 238 habitantes e dezenas e dezenas de modelos de motociclos de fabrico nacional, sobretudo as produzidas na Famel, em Mourisca do Vouga, Águeda, fábrica que abriu falência em 2002.
Para perceber a dimensão desta “febre” que há três anos assola Babe, basta ver o exemplo de Bruno Miguel, de 26 anos, dono de mais de 40 motas de fabrico nacional, sendo pelo menos 15 delas da marca Famel. Na sua posse tem modelos como a mítica XF – 17, Z3, Z1, 77, Mirage, Periquito e ainda um exemplar da Foguete e outro da Foguetão. Mas Bruno também é dono de vários modelos da SIS Sachs (a V5 foi dos modelos mais famosos), uma marca que, tal como a Casal (a Casal Boss foi um sucesso), também nasceu no distrito de Aveiro, o principal ninho das marcas de motorizadas que fizeram a história das duas rodas em Portugal.
Tudo começou em 2012, quando Bruno e alguns amigos começaram a recuperar estas motas. “Muitas vezes chegávamos às aldeias aqui à volta de Babe a perguntar se havia motas destas esquecidas nos barracos e arrecadações e até nos pediam o favor de as levar”, recorda Bruno. Com o passar do tempo, Bruno foi-se especializando na sua recuperação e até criou uma empresa: “tendo comigo todo o material necessário, cada mota pode demorar cerca de uma semanaa semana e meia a ficar pronta”. E a verdade é que a procura por estas motas, como a Famel XF – 17, já assumem valores relevantes: “uma Famel bem recuperada pode chegar aos dois mil euros”.
Há dois anos foi criado em Babe o motoclube “Os Bravios”, que já conta com cerca de 90 sócios. “Todos os anos são nomeados quatro ‘mordomos’ que ficam encarregados de organizar todas as atividades, comoos passeios e encontros”, descreve Bruno, que destaca ainda a troca de informações e peças entre os sócios como principal função do clube. Tudo em nome da Famel, cujo nome era muitas vezes traduzido por “F***-se, A Mota É Linda”.