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A resposta portuguesa às tarifas de Trump

| Revista ACP

Governo criou um pacote de medidas para mitigar impacto das tarifas norte-americanas na economia.

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As tarifas alfandegárias adicionais anunciadas pelos EUA têm sido um dos temas mais discutidos nos últimos tempos e, apesar de as tarifas recíprocas terem sido suspensas, as tarifas setoriais (aço e alumínio e automóveis) continuam em vigor e a gerar incerteza sobre o rumo do comércio mundial.

O Governo português anunciou a 10 de abril um conjunto de medidas que ascendem a 10 mil milhões de euros, para mitigar o impacto das tarifas junto das empresas exportadoras com base em Portugal.

O "Programa Reforçar", assim foi designado pelo Executivo, visa que, através do Banco de Fomento, as empresas exportadoras com base em Portugal acedam a linhas de crédito num montante total de 8,6 mil milhões de euros.

Haverá ainda um reforço do plafond em 1.200 milhões de euros dos seguros de crédito, sendo que passarão a cobrir não apenas os países emergentes, chegando também aos "mercados tradicionais".

O Governo pretende também a expansão de projetos de apoio à internacionalização, com o reforço de "programas coletivos" que permitem às empresas irem a mais feiras.

No entanto, que efeito terão as tarifas nos bolsos dos portugueses?

O consumidor português não é diretamente afetado, mas [o aumento das tarifas] não é bom porque pode baixar as exportações, e isso tem consequências para a economia”, afirma o Afonso Arnaldo, partner da Deloitte especialista em fiscalidade.

O impacto mais imediato vai ser sentido no outro lado do Atlântico, segundo Afonso Arnaldo, uma vez que o aumento das tarifas pode conduzir ao abrandamento do consumo dos produtos exportados para os EUA. Se isso se verificar haverá um abrandamento da produção no país exportador.

No caso de Portugal, e observando o setor automóvel, “se não houver encomendas para haver entregas nos EUA, a indústria portuguesa irá ressentir-se dessa baixa de produtividade”, alerta José Couto, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel. E essa baixa de produtividade que pode penalizar a economia nacional e, consequentemente, o cidadão comum residente em Portugal.

 

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Os números em torno das tarifas

As tarifas setoriais e recíprocas anunciadas, se implementadas definitivamente, vão implicar um custo de 80 mil milhões de euros sobre 70% dos produtos da União Europeia (UE) que entram nos EUA, que representam 380 mil milhões de euros de exportações, segundo o jornal Público, que cita fontes da UE.

Atualmente, a UE paga sete mil milhões de euros à entrada de produtos europeus no mercado norte-americano.

No caso das tarifas recíprocas, os produtos visados correspondem, aproximadamente, a 290 mil milhões de euros, sendo que Washington estima encaixar mais 58 mil milhões de euros de receitas com a nova taxa de 20% sobre os produtos europeus.

Quanto às tarifas setoriais, o custo estimado para a UE, no caso das exportações de aço e alumínio, somar mais 6,5 mil milhões de euros, num universo de 26 mil milhões. No caso dos automóveis, que representam 66 mil milhões de euros das vendas da UE para os Estados Unidos, os custos adicionais das novas tarifas (os 25% acrescentam à taxa de 2,5% que era aplicada aos carros europeus) estão calculados em 16,5 mil milhões de euros, segundo o mesmo jornal.


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O nível de exportações automóveis na UE e em Portugal 

Em 2024, a UE exportou 5,4 milhões de automóveis e importou 4 milhões de automóveis. Em comparação com 2019, o número de automóveis exportados diminuiu 13,2 %, enquanto o número de automóveis importados diminuiu 3%.

“A diminuição do número de automóveis exportados e importados, juntamente com o aumento dos valores comerciais, reflete o aumento dos preços entre 2019 e 2024”, argumenta o Eurostat.

Mesmo assim, o bloco comunitário registou um excedente comercial 89,3 mil milhões, porque exportou automóveis no valor de 165,2 mil milhões de euros (+17,7%) e importou veículos no valor de 75,9 mil milhões de euros (+12,7%).

Os EUA e o Reino Unido foram os principais destinos das exportações de automóveis, seguidos da China, Turquia e Suíça. Já a China e o Japão foram os maiores fornecedores de automóveis da EU.

Em Portugal, a indústria automóvel representa cerca de 20% do total das exportações portuguesas de bens para o exterior. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2024, foram fabricados 332.546 automóveis em Portugal (+4,5% face a 2023), sendo que 97,7% foram vendidos para fora do país.

A indústria automóvel nacional gerou 15,2 mil milhões de euros em exportações no último ano (-4,1% face a 2023), sendo a Alemanha, a França, o Reino Unido, a Espanha e a Itália, os principais destinos. A Europa representa 87,8% das exportações automóveis.

No global, Portugal exporta veículos para 123 mercados e componentes automóveis para 171 países no total. Do lado das componentes, os EUA representam 5% das exportações.

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