Como a eleição de Trump “abala” o mundo automóvel

| Revista ACP

Os reflexos da eleição do candidato republicano na indústria automóvel não se fizeram esperar e os seus efeitos ainda são uma incógnita.

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Não têm sido tempos fáceis para a indústria automóvel. Em crise desde a pandemia e “a braços” com a ameaça chinesa, a indústria automóvel enfrenta agora novas incertezas com a eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA.

Ao longo da campanha Donald Trump prometeu uma maior proteção da indústria automóvel norte-americana, propondo a introdução de tarifas recorde para os automóveis produzidos na China, mas não só.

A sugestão da introdução de tarifas de até 2000% sobre alguns carros estrangeiros, inclusive os produzidos no vizinho México, causou ondas de choque na indústria automóvel.

Apesar do foco de Trump estar, ao que tudo indica, nos construtores chineses, também as marcas alemãs temem ser afetadas pela eleição de Donald Trump, especialmente porque já na primeira campanha eleitoral do republicano, em 2016, tinham estado “na mira”.

Na altura marcas como a Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz evitaram tarifas de 35% através da negociação de investimentos na produção de automóveis elétricos nos EUA. Porém, desta vez o cenário parece menos favorável.

 

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Durante a campanha eleitoral Donald Trump usou precisamente o exemplo alemão para criticar os incentivos à compra de elétricos, antecipando desta forma uma reversão das políticas fiscais de apoio a este tipo de automóveis.

Ora, caso tal se confirme, e tendo em conta que muitas marcas alemãs produzem os modelos que vendem nos EUA no México, estando por isso à mercê das prometidas tarifas, pode estar a formar-se mais uma “tempestade perfeita” para as marcas europeias.

Elétricos: sim ou não?

A posição de Donald Trump acerca dos automóveis elétricos é, no mínimo, dúbia.

Ao longo da campanha o republicano acusou Kamala Harris, a candidata do partido democrata, de querer “acabar com todos os carros movidos a gasolina” por causa das regras publicadas pela Environmental Protection Agency (EPA) defendidas pelo partido democrata.

Crítico dos apoios à compra de elétricos, Trump afirmou na campanha: “Vimos o que aconteceu na Alemanha quando os subsídios foram eliminados — as vendas de veículos elétricos caíram a pique”.

Ainda a apontar para um posicionamento desfavorável aos automóveis elétricos, citado pela Forbes, Donald Trump afirmou que não se ia “preocupar com os elétricos”, automóveis que acha “muito caros” e que noutra entrevista ao mesmo meio afirmou que serão todos produzidos na China no futuro.

Porém, também citado pela Forbes, Donald Trump disse ser um “grande adepto” dos automóveis elétricos e a sua aproximação a Elon Musk é já bem conhecida, o que só aumenta as dúvidas acerca do seu posicionamento sobre este tipo de propostas.

Tesla saiu a ganhar

Para já uma das grandes “beneficiárias” da vitória de Donald Trump parece ser a Tesla. Tal como avançavam as previsões, o mercado respondeu de forma imediata aos resultados das eleições presidenciais norte-americanas.

Ora, entre as empresas que mais beneficiaram desse efeito está precisamente a Tesla, cujas ações dispararam mais de 14% na abertura do mercado norte-americano na quarta-feira, 6 de novembro.

Para se ter uma noção do efeito da regresso de Trump à Casa Branca, o valor das ações da empresa de Elon Musk chegou a ultrapassar a barreira dos 289 dólares por ação, valor que não era alcançada desde setembro de 2022.

Além do efeito imediato da eleição de Trump no valor das ações, a Tesla pode ainda beneficiar a médio prazo com a imposição das tarifas prometidas pelo republicano, especialmente porque estas deverão afetar os planos de expansão global de marcas como a BYD, a XPeng e a NIO.

Também Elon Musk deverá beneficiar com a eleição de Trump. Recorde-se que nas últimas semanas Trump falou da possibilidade de atribuir um cargo governamental a Musk.

Na altura prometeu a criação de uma Comissão de Eficiência Governamental, já proposta no passado por Musk, e anunciou que a gestão desta agência estaria precisamente a cargo do milionário que lidera a Tesla e a SpaceX.

Portugal afetado?

As “ondas de choque” da eleição de Donald Trump são tais que prometem até chegar a Portugal e, em particular, à indústria de componentes nacional.

Responsável por mais de 14,6% do total das exportações nacionais entre janeiro e agosto deste ano, a indústria portuguesa de componentes tem nos EUA um importante mercado.

Em 2023, foi o quarto principal mercado de exportação de componentes produzidos em solo nacional, com uma quota de 5%. Ora se, Donald Trump avançar, como prometeu durante a campanha, com a revisão dos direitos aduaneiros a indústria nacional de componentes deverá ressentir-se.

Recorde-se que Trump defende uma tarifa universal de 10% a 20% sobre todos os produtos importados.

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