Nascida há 70 anos dos escombros da II Grande Guerra, a Vespa tornou-se um dos maiores ícones de Itália, de tal forma que há quem diga que se confunde com os próprios italianos: são ruidosas e temperamentais, mas carregadas de estilo e muito divertidas.
A Vespa é um caso sério de sucesso comercial. Desde 1946 ja foram vendidos 18 milhões de exemplares, unindo diferentes culturas, das mais diversas faixas etárias e sociais, na paixão por uma scooter. E este número não tem parado de crescer, pois só entre 2005 e 2015 a Piaggio já fabricou mais de 1,5 milhões de unidades.
Desde 1946 que se produzem Vespas em Pontedera, a fábrica situada a meio caminho entre Livorno e Florença, onde tudo começou. Pontedera era aliás uma pequena fábrica do grupo Piaggio, criado em 1884 por Rinaldo Piaggio, onde se produzia a parte aeronáutica da empresa, sendo sido por isso destruída na II Grande Guerra. Decididos a reerguer o império herdado do pai, Enrico e Armando Piaggio arriscaram na reconversão industrial, apostando na mobilidade pessoal. Enrico, que ficou com a missão de reconstruir Pontedera, achava que o caminho certo era produzir um veículo barato e acessível a todos.
Coube a Corradino d'Ascanio, um engenheiro que fabricava helicópteros, dar corpo a esta intuição, ele que nem gostava de motas. A base foi um modelo que a Piaggio produziu para as tropas italianas, o Paperino (nome como é conhecido o Pato Donald em itállia, Paolino Paperino). d'Ascanio aplicou os seus conhecimentos de engenharia aeronáutica, revolucionando chassis, motor, transmissão e design. Quando Enrico olhou para a mota concebida por d'Ascanio, exclamou: "sembra una vespa" (parece uma vespa). E assim nasceu uma lenda, que foi sendo copiada a eito, sendo as cópias mais bem sucedidas a Innocenti Lambretta (a certa altura mais famosa em Portugal que a Vespa) ou a Vyatka vp 150, a versão integral (e não licenciada) da Vespa na União Soviética. A primeira Vespa tinha um motor de 98cc e dava 60 km/hora.
Em 70 anos a Piaggio já concebeu mais de 150 modelos, versões e variações da Vespa. E hoje em dia a Piaggio também produz as suas sccoters numa fábrica em Vinh Phuc, a 60 quilómetros de Hanói, no Vietname, de onde partem os modelos para o mercado local e Extremo Oriente, e outra em Baramati, a 250 quilómetros de Bombaim, servindo exclusivamente o gigantesco mercado indiano.
Uma ferroada de estilo
Embora os valores de produção e venda Vespa não deixassem dúvidas quanto ao sucesso desta scooter, tendo vendido meio milhão de unidades nos primeiros sete anos, a verdade é que foi o cinema a catapultar a Vespa para as bocas do mundo. Um dos responsáveis foi "Férias em Roma", de William Wyler, de 1953: é inesquecível a cena em que Audrey Hepburn e Gregory Peck percorrem as ruas da capital italiana numa Vespa 125, com ar de quem tem toda a liberdade do mundo e felicidade para esbanjar.
É difícil comprovar uma relação de causa-efeito, mas a verdade é que desde esse filme a Piaggio só precisou apenas de mais três anos para vender outro meio milhão de Vespas. Em 1960 já tinha produzido um total de dois milhões de unidades. A contribuir para a fama e sucesso foi o filme "La Dolce vita", de Fellini, com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg a deslocarem-se numa Vespa.
A Vespa e as câmaras de filmar parecem ter uma relação de grande empatia. Outros filmes famosos que têm a Vespa no seu "elenco" são " O Talentoso Mr. Ripley", de Anthoni Minghella, com Matt Damon, Gwyneth Paltrow e Jude Law; "A Intérprete", de Sydney Pollack, com Nicole Kidman e Sean Penn; ou o imperdível "Querido Diário", de Nanni Moretti, em que o cartaz é precisamente o famoso realizador italiano montado numa Vespa. Mas até na animação esta scooter entrou, mais precisamente num dos episódios dos "The Simpson".
Outra das componentes que deu fama à Vespa foi a tentativas de bater recordes, assim como as participações em provas desportivas. Caso do francês Georges Monneret que atravessou o Canal da Mancha numa Vespa anfíbio, em 1952. Mas há mais: nessa mesma década, Giancarlo Tironi, um estudante universitário, foi de Itália ao Círculo Polar Ártico numa Vespa. E houve um argentino, Carlos Velez, que viajou de Buenos Aires até Santiago do Chile, atravessando os Andes. Em 1980, na segunda edição do Rallie Paris-Dakar, duas vezes cruzaram a meta.