O puto sempre foi muito reguila, muito ao contrário da imagem que passa hoje na F1. Estou a falar do Nico Rosberg o piloto da Mercedes a caminho do ceptro mundial de F1 deste ano... acho eu, mas, nunca se sabe. Lewis Hamilton pode ser o elefante atingido, mas não morto, pelo que o perigo de resposta é bem maior e muito mais imprevisível.
Mas, queria falar hoje do Nico, o tal miúdo que conheci... uns dez anos antes de ele ter nascido. Sou amigo do Keke desde meados dos anos 70, quando o finlandês voador guiava um Super V no campeonato alemão, com patrocínio da Warsteiner no carro e Colt, a marca de cigarros, no fato. Não sei bem quantas vezes o Keke deu umas valentes cacetadas com o Super V. Eu vi algumas, uma delas em Hockenheim mesmo ali na minha frente na Curva Bosch. Parece que foi há uns dias só e já lá vão uns 40 anos, mais ou menos... ainda o pó da gravilha não tinha descido, e já o Keke estava cá fora do carro, com o chapéu panamá da Colt enfiado na cabeça e um cigarrito já aceso, no canto da boca. Grande Keke.
Mas, é sobre o Nico que quero falar. O Keke só casou com a Sina à segunda, ou seja, depois de ambos se terem encontrado de novo, após uma separação de namoro... de teenagers. Sina, sempre muito reservada, não vai nunca a corridas do Nico, como praticamente não ia às do Keke. Fica em casa, estilo mãezinha a rezar para que nada aconteça. Pouco usual nas mulheres de pilotos de então e mesmo de hoje.
Bom, mas vamos ao Nico. Por volta de Fevereiro de 1993, mais ou menos pois estou a citar de cabeça, consegui convencer o Keke a voltar a correr. Ele tinha abandonado a competição depois de uma passagem pela Peugeot Protótipo de Jean Todt e estava assim meio reformado. Depois de uns testes aqui no Estoril, bem no início do ano, o Keke disse-me que ia deixar de fumar e queria correr na minha equipa da Mercedes com os AMG do DTM, lutando na nossa equipa contra Ludwig, Schneider e... Ellen Lohr, e todos os outros cobras da categoria. A primeira corrida foi em Zolder. Keke andou assim assim e não se apurou directamente para a corrida principal. Teve de ir à repescagem de sábado à tarde. E aí, chegou a Sina com o Nico, um puto muito bonitinho e lourinho de uns oito anos de idade. Tinham vindo tarde porque o miúdo não podia faltar às aulas em Monte Carlo. Nico chega e pergunta-me como é que o pai tinha andado. Disse-lhe, que mais ou menos e que tinha uma corrida de qualificação. Nico fica triste e larga uns palavrões, em bom alemão... o Keke sorri, como sempre, e pisca-me o olho assim a modos que o meu filho até tem razão.
Uns anos mais tarde, Keke vem ter comigo e diz-me que o Nico quer ser piloto de automóveis... e ele não sabe nada o que fazer. Ok, como "tio" do miúdo, tomo conta do assunto e levo os dois ao Tinini em Itália, o mago dos karts da CRG. Depois do GianCarlo se ter acalmado ao ficar nervoso com a presença do seu ídolo Keke em Lonato, lá lhe digo o que o Keke queria. Tudo bem, diz o italiano, o Nico vai já começar no primeiro torneio do ano, aqui em Itália. Quantos anos tem ele, pergunta o Tinini. Eu digo que tem 11 e vai fazer 12 dali a semanas. Ok, diz ele, então passa já a ter 12 para poder ter licença e fazer as primeiras provas... o Keke encolhe-se todo, faz de conta que não percebeu, mas com aquele sorriso matreiro debaixo do bigode loiro, vê logo que estes italianos são mesmo o que ele precisava para o Nico.
Ok, vamos encurtar tudo, nesse ano ainda contratamos o Dino Chiesa assim a modos que o Andrew Newey dos karts e entrou o Lewis Hamilton também para a equipa, apoiado pela McLaren e assim fizemos a "Black and White Racing Team" com a AMG e McLaren como patrocinadores, em 2000 e nos anos seguintes. Meus senhores, isto foi já há 16 anos, ok?
No fim desse ano, em França, faz-se uma corrida de brincadeira em Monte Carlo com os pais e filhos a dividirem um kart. Nico, ambicioso como sempre, esfrega as mãos de contente. Aquilo vai ser canja, ele e o Pai Keke vão limpar aquilo, fácil. Mas não, o Nico começa e põe o kart na na frente. O Keke depois começa a perder terreno e o duo Rosberg não ganha a corrida. Termina a prova e o puto Nico está num pranto, inconsolável. Chego perto dele e digo-lhe que aquilo tinha sido a brincar e que mais isto e mais aquilo e o Nico, nada, continua a chorar copiosamente. O Keke chega então ao pé de nós e o Nico não está com meias medidas: "Pai, porra, não guias nada. És como os outros pais, um zero ao volante ... desculpa lá, mas explica-me como é que foste campeão do mundo de F1, como?". E virou-nos as costas. O Keke olhou para mim e ambos chegamos à conclusão que o puto Nico tem mesmo a fibra que é preciso para ser campeão. E não é que é capaz de o ser este ano? Se sim, ele fica a saber como é que se chega lá.