Por montes e vales, com neve pelo meio, uma etapa de 180 km, ligando Ouarzazate, a porta do deserto, a Marraquexe, a pérola do sul.
por Rui Cardoso
Há uma ou duas dúzias de anos, só havia uma estrada para ir de Ouarzazate a Marraquexe, a Nacional 9 que atravessa os contrafortes do Atlas e, mesmo muito melhorada, continua a ser trabalhosa, com sucessivos ganchos, descidas e subidas prolongadas e algum trânsito, nomeadamente de pesados. Havia uma alternativa para os primeiros 40 km mas era estreita, em terra e com passagens verdadeiramente arrepiantes.
Agora foi asfaltada e, mantendo um traçado lento, é espectacular, acompanhando os meandros do vale do rio Asif Ounila. De cinco em cinco minutos sucedem-se aldeias no fundo do vale, trepando pelas encostas, com casas em adobe e taipa que se confundem com o barro e o xisto das encostas.
De regresso à neve
Feito o entroncamento com a N9, o traçado melhora muito e não perde em espectacularidade, uma vez que a ascensão de mais um contraforte do Atlas nos faz passar a mais de 2000 metros de altitude, com bastante neve dos dois lados da estrada que as máquinas de limpeza diligentemente afastam para as bermas.
É em traçados destes que sabe bem estar ao volante de um 4x4: nunca nos falta potência para subir, conduzimos mais altos e temos melhor visibilidade que num carro normal. E, claro, sobre espaço para arrumar as inevitáveis compras (quem resiste a tanto mineral, tanto fóssil e tanto boneco pintado?). A nossa pick-up KMG Musso Raider ajuda a desfazer os mitos sobre as limitações das caixas automáticas em traçados de montanha. Na verdade, mesmo nas travagens a descer para os ganchos mais apertados, o comando manual da caixa permite reduzir para mudanças mais baixas sempre que tal é necessário, de forma a não sobrecarregar os travões.
![Expedição a Marrocos Dia 5](/ResourcesUser/ACP/img_artigo/Viagens_e_Lazer/Estrada_fora/ACP-Expedicoes-Passeios-Marrocos-artigo.14.jpg)
AAscensão na Nacional 9, com neve à mistura e a KGM Musso Raider em evidência
![Expedição a Marrocos Dia 5](/ResourcesUser/ACP/img_artigo/Viagens_e_Lazer/Estrada_fora/ACP-Expedicoes-Passeios-Marrocos-artigo15.jpg)
Casas de adobe, confundindo-se com as encostas
![Expedição a Marrocos Dia 5](/ResourcesUser/ACP/img_artigo/Viagens_e_Lazer/Estrada_fora/ACP-Expedicoes-Passeios-Marrocos-artigo16.jpg)
A vaca Amélia, mascote da expedição, às compras na praça Jemaa-el-Fna
Balik! Balik!
E, com a hora de almoço a aproximar-se, a entrada no caótico trânsito de Marraquexe, onde ciclistas, peões, motoretas e furgões disputam a toques de buzina cada centímetro de espaço. O mais extraordinário é que este cenário se repete nas vielas da medina medieval com carrinhos de mão, bicicletas e motoretas a forçar passagem no meio dos peões e toda a gente a gritar “balik!”, “balik!” ou seja arreda, arreda…
Inevitável, a visita à famosa praça Jemaa-el-Fna (literalmente praça da mesquita dos defuntos) onde, como nas cenas das Mil e uma Noites, há encantadores de serpentes, tocadores de pífaro ou tambor, amestradores de macacos e vendedores de tudo quanto se possa imaginar. Uma experiência multissensorial com um bombardeamento de cores, cheiros, ruídos e movimentos.
Melhor adeus a Marrocos (ou, melhor dizendo, até à vista) não poderia haver.