Merzouga fantasma

Muita areia para as nossas camionetas

E chegou o grande dia, o da travessia da cadeia de dunas do Erg Chebbi, com os inevitáveis atascanços. Mas quem nunca atascou não pode dizer que fez TT.
por Rui Cardoso

Em Portugal não faltam casos de povoações que, com o tempo foram abandonadas ou perderam importância para renascerem uns quilómetros à frente. É o caso, para citar apenas um exemplo, de Proença-a-Nova e Proença-a-Velha. Aqui em Marrocos dá-se o mesmo caso. A vila de Merzouga que ganhou importância graças às excursões às dunas multicoloridas do Erg Chebbi deveria, em bom rigor, ser Merzouga-a-Nova já que a velha, onde até há décadas havia uma exploração mineira, se tornou em pouco mais que uma cidade-fantasma, ainda que guardada por uma pequena guarnição militar.

E foi pela visita à Merzouga fantasma que começou a nossa jornada de terça-feira. Se aqui já não se extraem pirites de cobre, mais para sul, na direcção de Zagora, abriram novas minas donde se extrai tudo o que é preciso para telefones, computadores, etc, nomeadamente silício, níquel, etc.

Antes disso, um café colectivo numa das famosas carrinhas paradas à beira da estrada, referidas em anterior crónica. É melhor que o de muitos cafés e pastelarias lusas. Como nos explicou o dono do estabelecimento rolante, é um pequeno tesouro de tecnologia: um armário feito à medida para encaixar no furgão, tendo no topo um balcão com uma máquina profissional de café e várias gavetas inferiores onde há reservatórios de água e uma bateria de 12 Volt, recarregada por painéis solares instalados no tejadilho. Simples mas genial!

Expedição Marrocos - dia 3

Expedição Marrocos - dia 3

Expedição Marrocos - dia 3

Pneu vazio é viagem garantida

Depois, à medida que as pistas ganhavam areia, começava o aquecimento de máquinas e pilotos para a travessia da cadeia de dunas do Erg Chebbi por onde já passou em tempos o Paris-Dakar. Como nos explicou Orlando Romana, responsável do ACP Motorsport e líder incontestado da expedição Marrocos Aventura 2025, pouco importa a potência do jipe, o tipo de suspensão ou a altura ao solo se os pneus não estiverem na pressão adequada ao piso. Ou seja, quanto mais mole a areia, menos pressão se deve ter. Um jipe comum rodará com 35 libras, ou seja, 2,4 bar, mas para transpor as dunas pode ser necessário (e foi) baixar até às 15 libras (1 bar). No fundo, alargar a superfície de contacto com o solo, copiando as patas largas dos camelos e outros animais do deserto.

Depois, é escolher caminho, abordando as encostas na diagonal e só aliviando o acelerador quando a frente do carro tiver passado a crista. Qualquer hesitação é atasco garantido, por exemplo, se, como sucedeu, tiver que parar antes da crista por o carro da frente ter estacado sem aviso. Depois? Com a preciosa ajuda de dois locais, montados num respeitável Toyota, foi só vazar mais os pneus, recuar em marcha à ré até ao declive anterior, ganhar balanço e seguir. Fora este percalço, não imputável à viatura, a nossa pick-up KMG Musso Raider portou-se à altura e a caixa automática respondeu com a prontidão necessária sempre que foi preciso embalar na areia mole.

Cardápio para amanhã, uma longa etapa que começará antes do nascer do sol e nos levará a caminho da lendária cidadela de Ait-Ben-Haddou, património da humanidade e cenário da rodagem de sucessivas grandes produções.

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