À beira das pistas de terra, entre Erfoud e Merzouga, pastores, nómadas e artesãos deixam a sua mercadoria exposta, a tabela de preços à vista e uma bolsa para os viajantes deixarem o dinheiro. O mundo devia funcionar sempre assim…
por Rui Cardoso
De Erfoud a Merzouga não vão mais de 50 km que se fazem por estrada em pouco mais de meia hora. Contudo, também se pode ir por terra, ao longo da fronteira entre Marrocos e a Argélia. Demora-se meio dia, faz-se quase o dobro dos quilómetros, mas vale a pena. As paisagens são grandiosas, sobretudo quando se atinge o planalto e se começam a ver, lá em baixo, a planície, os rios secos e os oásis.
Foi este o programa deste terceiro dia de viagem, o Marrocos Aventura, a decorrer até dia 8 de Fevereiro. Um grupo pequeno, divertido e com uma longa experiência em todo-o-terreno que junta pilotos, jornalistas, habituais colaboradores do ACP Motorsport e respectivas famílias, sob a liderança competente e divertida de Orlando Romana.
Não foi preciso andar muitos quilómetros para encontrar a primeira banca com fósseis, minerais (rosas do deserto, quartzos, etc) e artesanato diverso. Está tudo numa mesa improvisada com os preços à vista. Cada um escolhe e deixa o dinheiro numa bolsa. E é assim ao longo de todo o percurso. Que lição de confiança na humanidade!
Até atingirmos o planalto, as pistas revelaram-se trabalhosas, com muita pedra e fortes desníveis à entrada e saída das linhas de água. Agora estão secas mas, como recordou Orlando Romana, em Novembro do ano passado, toda esta zona estava literalmente debaixo de água, com a cadeia de dunas do Erg Chebbi transformada numa espécie de ilha.
Subida laboriosa para o planalto
Foi numa destas passagens que a pick-up que conduzo – uma KMG Musso Raider – me pregou um pequeno susto, quando travões e caixa automática se desentenderam, mas tudo se resolveu e a “camioneta” continua pronta para todo o serviço e passou de forma irrepreensível nas primeiras zonas de areia mole. O conforto a bordo é de topo, ajudado pela grande distância entre eixos e pela eficácia da suspensão. A Sssang Yong (agora KMG) pode ter mudado de accionistas e de nome, mas continua a saber fazer veículos 4x4.
A descida do planalto, alem de proporcionar panoramas deslumbrantes, evidenciou que as relações entre os dois países vizinhos – Marrocos e Argélia – continuam a ter o seu quê de tenso, com as cumeadas ocupadas por instalações militares dos dois lados da fronteira e a planície cortada por duas fundas valas anti-carro paralelas.
Mais pacífico o ambiente no oásis de Saf Saf, onde fizemos um piquenique à sombra das palmeiras, com água fresca e corrente ao alcance da mão. O final do trajecto levou-nos a Merzouga com as dunas douradas e rosas do Erg Chebbi bem à vista, as mesmas que o cinema imortalizou em “Guerra das Estrelas”, “Lawrence da Arábia”, etc.
Amanhã, terça-feira, por lá andaremos e veremos se, sim ou não, isso será muita areia para as nossas camionetas.