As estradas marroquinas estão a anos-luz do que eram há vinte anos mas, mesmo assim, de vez em quando acontece cada uma, que não se acredita…
Rui Cardoso
Neste último dia da expedição Marrocos Aventura 2025 já não houve TT, excepção feita a uma pequena incursão fora de estrada à chegada ao nosso hotel na belíssima costa atlântica a norte de Larache. Mas isso não quer dizer que não tivesse havido emoção a rodos.
Tudo começou logo de manhãzinha com a travessia do caótico trânsito de Marraquexe. Nas rotundas e cruzamentos vigora um só mandamento e ai de quem o desrespeite: primeiro passa o mais atrevido, os outros logo se vê. Está em perfeita consonância com uma cidade de milhão e meio de habitantes em cuja praça central – a famosa Jemaa-el-Fna – há as mais delirantes bancas, incluindo a de um dentista que expõe dentaduras de diversos modelos que o freguês pode ir experimentando até ficar satisfeito. Numa das fotos que acompanha esta crónica o que se lá vê não é montagem nem fruto de um delírio da inteligência artificial – é a realidade que nos deixa de boca escancarada. Literalmente…
Os 450 km de Marraquexe para Larache noutros tempos eram um inferno, feitos quase sempre por estrada nacional e implicando atravessar os engarrafamentos de Rabat. Agora é sempre por auto-estrada com traçado e piso irrepreensíveis mas onde deparamos com coisas extraordinárias, desde gente a pedir boleia (e almas caridosas a pararem onde menos se esperaria) até felpudas ovelhas a pastar na berma, distraidamente vigiadas por um pastor.
Ruínas da fortaleza de Larache, onde a frota lusa esperou em vão por D. Sebastião após Alcácer-Quibir
Dentaduras à vontade do freguês
Uma pirâmide invertida em movimento
Desafiar as leis da física
Ainda mais extraordinário, o espectáculo de camiões carregadas com palha e outros carregos volumosos, acrescentando o dobro do volume ao veiculo original e desafiando com galhardia as leis da física (o centro de gravidade parece ser um mito para esta gente ousada). E se isto acontece nas estradas nacionais, repete-se nas auto-estradas, o que nos deixa com uma perplexidade: na hora de pagar a portagem, passam por onde?
E ainda há os candidatos a suicidas rodoviários, uns com bons carros e outros com velharias decrépitas, mas sempre de prego a fundo, ultrapassando pela berma direita ou serpenteando pelo meio do trânsito. Afinal George Miller não inventou nada quando filmou “Mad Max”…
Dito tudo isto, a rede rodoviária de Marrocos começa a envergonhar a sua congénere portuguesa em termos de qualidade e cobertura do território. Para além do que não há chinesices com Classe 1, Classe 2, etc como em Portugal. Automóveis, carrinhas, jipes e afins pagam todos pela mesma tabela. Só se rebocarem um atrelado ou já forem veículos pesados é que a tabela muda. E não há só auto-estradas. Paralela ao traçado rodoviário entre Tânger e Casablanca (317 km) já funciona desde 2018 uma linha de comboio de alta velocidade.