Com um veículo elétrico fabricado na China e projetado em Espanha, a marca CUPRA vai ser “aniquilada” se a Comissão Europeia prosseguir com as tarifas de importação previstas de 21.3% sobre um dos seus modelos, revelou o CEO da marca à Reuters.
Em causa está o modelo Tavascan, um SUV totalmente elétrico vendido em portugal a partir dos 50 mil euros. Mas Wayne Griffiths, que dirige as marcas Seat e Cupra, ambas subsidiárias do Grupo Volkswagen, afirma que aumentar o preço (o que em Portugal poderia significar mais 10 mil euros por unidade) "para cobrir os custos não é uma opção no atual ambiente económico europeu".
E, diz Griffiths, também não era possível transferir a produção para outro local depois de a empresa já ter investido na construção de capacidade na fábrica da Volkswagen em Anhui, uma joint venture de propriedade maioritária com a JAC Automobile Group da China.
Sem as vendas projectadas do Tavascan, a Cupra não vai conseguir cumprir as metas de redução de dióxido de carbono exigidas pela UE no próximo ano e, por isso, terá de enfrentar multas pesadas, forçando a marca a cortar a produção, com um possível impacto no emprego na sua base em Espanha, disse Griffiths.
“Isto põe em risco todo o futuro financeiro da empresa”, revelou Griffiths. “A intenção era proteger a indústria automóvel europeia mas, para nós, está a ter o efeito contrário .... Precisamos de encontrar uma solução”.
Estes comentários são os mais fortes até agora feitos por um fabricante de automóveis afetado pelas tarifas, sublinhando as preocupações de que Bruxelas irá prejudicar os intervenientes nacionais que está a tentar proteger através da sua investigação dos subsídios chineses lançada há quase um ano.
Os direitos aduaneiros anti-subvenções vêm juntar-se aos direitos aduaneiros normais da UE de 10% sobre as importações de automóveis, uma medida que a Comissão diz ter como objetivo nivelar as condições de concorrência e contrariar o que diz serem subsídios injustos. Pequim ameaçou retaliar com barreiras às importações comunitárias de lacticínios, carne de porco e conhaque.
O Tavascan, tal como o Mini elétrico da BMW, foi inicialmente atingido por uma tarifa de 38,1% nos planos de Bruxelas, o que suscitou protestos de ambas as empresas. A tarifa sobre os dois modelos foi reduzida para 21,3% no mês passado, por as duas empresas terem sido incluídas na lista de empresas que cooperaram com a investigação da UE.
Ao mesmo tempo, Bruxelas reduziu o direito aduaneiro proposto para a Tesla, que tem uma grande fábrica em Xangai, para 9%, o mais baixo de todas as penalidades, depois de o fabricante americano de veículos eléctricos ter pedido o seu próprio direito negociado.
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Se forem impostos direitos, a Cupra pode solicitar o seu próprio direito negociado, como fez a Tesla. A revisão duraria até nove meses. Griffiths afirmou que a Cupra está em conversações com “diferentes níveis” da Comissão e com os governos alemão e espanhol para tentar convencê-los a reduzir ou eliminar as tarifas planeadas.
Os construtores de automóveis alemães, como a Volkswagen, estão fortemente expostos a eventuais contra-tarifas da China sobre as importações de automóveis com motores de grandes dimensões. A China representa cerca de um terço das suas vendas. Embora a maioria dos automóveis vendidos na China seja fabricada localmente, muitos modelos topo de gama são importados.
A Cupra decidiu, há vários anos, produzir o Tavascan, o seu segundo modelo totalmente elétrico, na recém-construída fábrica da Volkswagen em Anhui, na China, como um “one-off” para colocar o produto no mercado rapidamente e sempre planeou que o sucessor do modelo fosse construído na Europa, disse Griffiths.
“Não somos uma marca chinesa que está a tentar inundar o mercado europeu. Os nossos automóveis não são para as massas. O automóvel não é um produto subsidiado”, afirmou. “Somos um animal diferente. É isso que estamos a tentar explicar.”