Após o final do Grande Prémio de Abu Dhabi, em que Max Verstappen, da Red Bull Racing, se sagrou campeão mundial ao vencer a prova, a Mercedes apontou falhas graves nas decisões da organização e apresentou duas queixas formais, que acabaram rejeitadas pela Federação Internacional do Automóvel (FIA). Inconformada, a Mercedes já oficializou a intenção de apelar ao Tribunal de Arbitral do Desporto, em Lausanne, e, caso se comprove que houve infrações ao regulamento no final da prova, esta será anulada, retirando o título a Verstappen, passando Hamilton a ser o novo campeão mundial. Tudo isto num processo que pode demorar meses.
E o que é que aconteceu para a Mercedes se sentir lesada em termos desportivos?
Sempre que o safety car (carro de segurança) entra em pista, a regra manda que os pilotos com voltas em atraso em relação ao líder retomem as posições corretas, ou seja, todo o pelotão tem de se reorganizar na ordem certa. E só depois é que o safety car pode sair de pista.
Quando à 53ª volta (de 58 no total) o Williams de Nicholas Latifi se despistou, o diretor de prova, Michael Masi, mandou entrar o safety car. À 56ª volta, ao contrário do esperado, o diretor de prova deu instruções para que os pilotos se fixassem nas posições em que se encontravam, mesmo com voltas de atraso.
Segundos depois, Masi corrige a ordem e, afinal, dá instruções para que o pelotão se reorganizasse nas posições corretas. Quando o 5º classificado se coloca na posição certa no pelotão, Masi volta a dar uma ordem inesperada: manda sair o safety car e assim a corrida seguiu nos seus termos normais, ou seja, prego a fundo e nas posições em que ainda se encontravam os restantes pilotos. Estávamos na 57ª e penúltima volta.
Quando tudo isto aconteceu, Lewis Hamilton, ao volante de um Mercedes, liderava a prova e Max Verstappen, num Red Bull Racing, ocupava o segundo lugar. Recorde-se que esta era a segunda vez na história da Formula 1 que dois pilotos chegavam à última prova com igualdade de pontos.
Quando entra o safety car em pista, devido ao já referido acidente do Williams, cinco carros atrasados separavam Hamilton de Verstappen, ou seja, 11 segundos de diferença entre eles. Ao dar ordem para que as posições ficassem corrigidas, como prevê o regulamento, o diretor de prova acabou por “limpar” o caminho para o piloto holandês que, ainda por cima, adotou a estratégia de trocar de pneus enquanto o safety car estava em pista. Resultado: com pneus frescos e agora colado à traseira do Mercedes de Hamilton, bastou uma reta para conseguir ultrapassar o piloto inglês, cujos pneus estavam desgastados.
Com estas decisões de Masi, a Mercedes acabou por se sentir enganada já que para os alemães seria impossível a quatro voltas do fim o pelotão conseguir reorganizar-se, ou seja, a equipa alemã contava que as posições se mantivessem fixas até à bandeira de xadrez, razão pela qual nem ponderou trocar os pneus do carro de Hamilton enquanto o safety car estava em pista.
Que regras foram quebras para a Mercedes?
Para a equipa de Hamilton, o diretor de prova infringiu o artigo 48.12 do Regulamento Desportivo da FIA, em que estabelece que todos os carros que tenham voltas de atraso para o líder devem, perante a entrada do safety car, passar à frente para acertar as posições. Mas há outra regra quebrada aos olhos da Mercedes: o artigo 48.8, que refere que “nenhum piloto pode ultrapassar outro carro em pista, incluindo o safety car, enquanto não passar a meta pela primeira vez após o safety car regressar à 'box'”. É que, diz a Mercedes, Verstappen ultrapassou Hamilton quando ainda o safety car estava em pista. Ficam lançados os dados para uma corrida agora a disputar-se nos tribunais.