O facto não passará de uma mera coincidência, mas o simbolismo está lá: três dias depois de terminar o salão automóvel de Munique, na Alemanha, que registou uma presença recorde de fabricantes de automóveis asiáticos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou a abertura de uma investigação contra subvenções para automóveis elétricos provenientes da China.
"Olhem para o setor dos veículos elétricos. É uma indústria crucial para uma economia ecológica, com um grande potencial para a Europa. Mas os mercados globais estão hoje inundados por carros elétricos chineses que são mais baratos. E os seus preços mantêm-se artificialmente baixos através de subvenções estatais gigantescas", disse a presidente da Comissão, enquanto intervinha no debate sobre o Estado da União, esta quarta-feira, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França).
Por isso, Von der Leyen anunciou que "a Comissão vai abrir uma investigação contra as subvenções para automóveis elétricos provenientes da China", uma vez que os subsídios estão "distorcer" o mercado europeu. "A Europa está aberta à competição, não a uma corrida para o fundo", completou.
Alemanha, França e Itália, que são os principais países produtores europeus de automóveis, aplaudiram a decisão de Von der Leyen.
O vice-presidente executivo da Comissão Europeia com a pasta do Comércio, Valdis Dombrovskis, viajará para a China na próxima semana no âmbito da investigação às subvenções chinesas no setor dos automóveis elétricos "para debater as oportunidades e os desafios comerciais e económicos".
"Estamos abertos à concorrência, mas não a práticas desleais. É por isso que estamos a lançar uma investigação sobre os automóveis elétricos provenientes da China", disse Valdis Dombrovskis, numa publicação na rede social X (antigo Twitter). "Queremos manter o diálogo aberto para reduzir os riscos, não para os dissociar", adiantou Valdis Dombrovskis.
A China enveredou pela estratégia dos elétricos segundo a doutrina lançada por Wang Gang, um ex-gestor da Audi que se tornou Ministro da Ciência e Tecnologia da China.
Há 20 anos, Wang (na foto), que foi quadro superior do grupo Volkswagen entre 1985 e o ano 2000, apontou os líderes chineses na direção da eletrificação da indústria automóvel como forma de impulsionar o crescimento económico, mas também para aliviar o peso da dependência da importação de petróleo e o da poluição ambiental. A sua estratégia, a de utilizar subsídos governamentais para atrair fabricantes de automóveis, tornou a China no principal mercado de elétricos, mas também num dos principais produtores deste tipo de viaturas, já com predominância no mercado mundial.